Sul/Sudeste x Nordeste: Zema o separatista (por Vitor Hugo Soares)
O governador de Minas tem sido, até aqui, a mais perfeita tradução do pós bolsonarismo de extrema direita
atualizado
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O pavio foi aceso, desta vez, pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e agora espalha no ar, do Sul-Sudeste e do Nordeste, forte odor típico de paióis de pólvora armazenada ao lado de lubrificantes de armas pesadas, em períodos preparatórios de guerras ou grandes combates. No caso simbólico, atual, com o retorno de tema e temores antigos e dos mais explosivos de sempre: o separatismo regional, ou racha político, ideológico e social de estados.
Assunto sempre polêmico, pela ameaça de ruptura da unidade nacional, questão historicamente posta acima das querelas naturais do Brasil. O governador de Minas tem sido, até aqui, a mais perfeita tradução do pós bolsonarismo de extrema direita, em suas gafes frequentes e lances provocadores e bravateiros – mas também de erros crassos. Principalmente em temas que cobram preparo intelectual, cultural e argúcia política.
O fenômeno – capaz de abalar os nervos de gestores públicos, dirigentes partidários e políticos profissionais no Congresso – mexe também com fardas, togas e batinas.Isto se fez evidente, e preocupante, a partir das declarações de Zema – feitas durante encontro com colegas de estados do Sul e Sudeste, e em entrevista ao Estadão –, quando comparou o Nordeste a “uma vaquinha leiteira, que produz pou”co e vive das tetas do Bolsa Família.
Agressão grosseira, rebatida pelo governador da Paraíba, João Azevedo, (PSB) atual presidente do Consórcio de Governadores do Nordeste, entidade criada no governo Bolsonaro. Foi o primeiro fósforo aceso perto dos depósitos de pólvora que rodeiam a questão: explosiva, – diga-se a bem dos fatos, – toda vez que é levantada (sob diferentes propósitos e pretextos explícitos ou submersos) acendendo o sinal de perigo de rachar a estrutura da unidade nacional. Nos moldes deste debate, para criação de um Consórcio de Governadores do Sul e Sudeste, que levou o governador de Minas ao seu disparate ofensivo.
Em Pernambuco, por exemplo, Marília Arraes, vice-presidente do Solidariedade, ao reagir ao que chamou de ataques xenofóbicos do político mineiro, afirmou que “falas como as de Zema são um desserviço à tarefa de unir o país, depois de quatro anos de violência institucional. Além disso, expressa a mais profunda ignorância sobre o Nordeste, já que muitos municípios mineiros enfrentam uma realidade socioeconômica muito similar à do Nordeste”, lembra a ex-deputada pernambucana. Ou pior, pode-se acrescentar, diante do quadro da zona do vale do Jequitinhonha,que além do Bolsa Família (argumento do governador min eiro em seu ataque ao Nordeste), mas também ser beneficiaria de recursos da Sudene. Precisa desenhar?
Há ainda os que sugerem “ser o melhor, mesmo, a dissolução do ajuntamento nordestino, “de esquerda”, criado no governo direitista de Jair Bolsonaro, notório inimigo da região em projetos e ações, e retomar à essência federativa e unitária, ditada pela Constituição, nas lutas e demandas dos estados, de todas as regiões, frente ao poder central da União. Criar outro consórcio de governadores só acentua a ideia separatista entre as duas bandas do Brasil. E só interessa aos que apostam em projetos carreiristas, de objetivos e perspectivas imediatistas, personalistas e eleitoreiras – como tudo indica ser o caso do governador de Minas Gerais. Tudo que a Nação menos precisa neste agosto que atravessa. O resto, a conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.E-mail: [email protected]